Olá a todos…

No outro dia, durante a minha hora de almoço, deparei-me com uma notícia exposta na televisão muda do local onde costumo almoçar que me deixou intrigado... “Morreu o Senhor do Adeus”

Na altura não consegui ter mais informações sobre tal acontecimento. Já em casa após uma pequena pesquisa, consegui perceber que afinal este Senhor possuí um nome, uma identidade.

João Manuel Serra, de seu nome ia todos os dias para a zona do Saldanha, em Lisboa, acenar aos transeuntes e automobilistas… O que leva uma pessoa a fazer isso? Foi essa explicação que encontrei no jornal Público:

"Chamam-me o Senhor do Adeus, mas eu sou o Senhor do Olá. Aquele que acena no Saldanha, a partir da meia-noite. Tudo isto é solidão? Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias de casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente", escrevia, em Março de 2008, o Expresso sobre João Manuel Serra, salientando: "São quase duas da manhã e os carros não param de lhe apitar. Nem eu de lhes acenar. Só fico triste quando o movimento acaba."
"Venho para a Praça Duque de Saldanha, desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém. Nasci aqui perto, na casa da minha avó. Um palacete tão bonito, que o Calouste Gulbenkian quis comprá-lo. Vê-se que foi um menino rico. Sou filho de gente abastada, nunca trabalhei nem entrei numa cozinha", acrescentava o semanário, citando o "Senhor do Adeus".
Em Setembro de 2003, o Diário de Notícias escrevia que João Serra "nunca trabalhou, mas conhece a Europa toda" e "já entrou em dois filmes e até num teledisco".

Uma história incrível deste homem que me comoveu e que reforçou a minha ideia em relação à importância e o valor das pessoas.

Um simples gesto como o acenar era para João um alento, mas acredito que para as pessoas que se cruzavam com ele também sentiam esse alento da parte dele…

Hoje em dias as pessoas andam muito centradas na sua rotina (contra mim falo) e esquecem-se até de um simples cumprimento…

Eu e um amigo à uns anitos fizemos o teste de ir na rua e cumprimentar-mos todas as pessoas que víssemos… Foi curioso porque as pessoas ficavam a olhar incrédulas para nós… Chegamos até a ser insultados… Penso que o acto de ser simpático hoje em dia é encarado com muita desconfiança pelas pessoas…

Outra situação que observava com regularidade era, por exemplo, as empregadas da limpeza da universidade onde andava estarem a limpar o corredor ou as escadas e as pessoas a passarem por ela sem qualquer esforço para evitar estragar todo o trabalho que ela teve durante aquela manhã… Eu sempre que passava por ela cumprimentava-as e pedia sempre desculpa pelo facto de ir PATANHAR tudo mais uma vez… Sei que é o trabalho delas mas não custa nada dar um bocadinho reconhecimento e de valor ao que a pessoa faz… Não é por ser empregada de limpeza que tem menos valor que eu…

João Serra conseguia abstrair-se de profissões, estratos sociais, raças e credos e tratar todos de maneira igual… como? Acenando e dando um sorriso aqueles que passavam todos os dias naquela praça!

Não conheci o João Serra mas em nome dos autores deste blog um bem haja a ele…

Adeus Senhor do Olá

PS.: João Serra dedicava o seu tempo a escrever criticas aos mais recentes filmes que estreavam nas nossas salas de cinema... Podem encontrar o blog neste endereço -> http://senhordoadeus.blogs.sapo.pt/